Capítulo "Desculpe" extraído do livro Método de Boas Maneiras
do escritor DeRose
A utilização do pedido de desculpas pode evitar até 90% dos
conflitos entre amigos e desconhecidos. Só não funciona tão bem entre
familiares, mas mesmo assim atenua bastante as tensões.
Deve ser utilizado não apenas quando você cometer algum
erro, mas também quando outros os cometerem. Alguém lhe dá um esbarrão, você
tem a certeza de que a culpa foi do outro, contudo, diz-lhe: “desculpe”. O
outro provavelmente dirá o mesmo. Ou se ele estiver convencido de que a culpa
foi sua, dirá “não foi nada”.
Não há preço que compense a economia de saúde a curto e a
longo prazo, proporcionada por evitar um confronto, seja ele com desconhecidos,
com amigos ou com familiares.
Então, vamos proceder a uma reeducação psicológica. Você
aprendeu que quando os outros erram, eles é que têm que pedir desculpas. Agora
está reaprendendo: quando você erra, pede desculpas e quando os outros erram
você pede também.
Jamais diga: “você não compreendeu o que eu disse”. No lugar
dessa indelicadeza, declare com solenidade: “desculpe, creio que eu não me
expliquei bem”.
E numa circunstância em que assumir a responsabilidade
poderia lhe custar um belo prejuízo? Se ocorrer um acidente de trânsito, você
tem a certeza de que a culpa foi do outro motorista! Mas ele também tem a
certeza de que a culpa foi sua… Então, que tal assumir a culpa e desculpar-se?
O seguro paga. Não tem seguro? Então, não é para você que estou escrevendo.
Todo o mundo tem seguro de tudo, do carro, da casa, de vida, de assistência
médica. Quem não o tem é tão imprevidente que não faz sentido ler um livro
destes. E não venha com a estória da falta de dinheiro que isso não convence.
Bastaria comprar um carro minimamente mais barato e fazer o seguro.
E como fica a questão do direito e da justiça? Como é que
você vai assumir uma culpa que não é sua? Não seria isso uma atitude meramente
covarde? Ao contrário! Definitivamente, é preciso muita coragem e dignidade
para assumir a sua própria culpa e, muito mais, a de outrem. Isso foi o que
fizeram inúmeros santos e heróis nacionais, pessoas com um elevado sentido de
compromisso humanitário a ponto de sacrificar o próprio ego e às vezes, até a
vida.
Mas antes de utilizar a estratégia do pedido de desculpas, é
preciso eliminar o sentimento de culpa típico das ex-colônias. Na América
Latina diz-se o “desculpe-me” com humildade e inferioridade, enquanto que nos
países colonizadores utiliza-se esse termo como recurso de superiorizar-se em
relação à pessoa com quem se fala.
Na França aplica-se o “pardon M’sier” para chamar a atenção
de alguém que tenha sido indelicado ou que tenha procedido mal em qualquer
circunstância.
Na Inglaterra e outros países que falam dialetos do inglês,
usa-se a forma “I beg your pardon” (eu suplico o seu perdão) para fazer uma
admoestação com superioridade e elegância a quem tiver cometido uma falta, uma
arrogância ou impertinência.
Em ambos os casos a pessoa que pediu perdão fê-lo de cabeça
erguida, com atitude de quem estava acima do outro. Com o pedido de perdão
rebaixou o interlocutor, obrigando-o a responder com uma justificativa. No caso
do inglês, a pessoa fica instada a modificar sua frase anterior. Se ela havia
dito, por exemplo: “O senhor retirou o objeto que estava aqui”, o “I beg your
pardon” tem o poder de modificar a atitude do acusador para algo como: “Sinto
muito, o que eu quis dizer foi que o senhor pode inadvertidamente ter esbarrado
e deixado cair o objeto em questão”. Você nota uma flagrante diferença de
postura no pedido de perdão do colonizador e no do colonizado.
Como estou lidando com um leitor que já é viajado e cosmopolita
(se ainda não o é, passará a ser com a leitura dos meus livros), posso propor
que assuma a postura de elevada auto-estima ao aplicar a estratégia do pedido
de desculpas. Ao fazê-lo, você não estará se humilhando nem se rebaixando, mas
estará pensando consigo mesmo: “Controlei a situação e dominei esse bruto que
tenho diante de mim. Estou satisfeito por ter conseguido fazê-lo com uma
inteligente administração de recursos. Na relação custo/benefício, poupei
tempo, economizei stress e ainda contabilizei uma pessoa que pode vir a ser
útil no futuro.”
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